Mais cooperação e altruísmo.
Uma perturbação renitente e
insistente me assola, por isso vejo a necessidade de escrever essas linhas,
expor meus simples pensamentos, por hora, lógico, mas por outra sentimental.
Algo que a observação e o peso da Justa Medida já demonstrem por si só.
A ostentação e a
meritocracia falsificada são os parâmetros e as diretrizes morais para o
convívio social. O belo é a estética, os olhos veem, mas o coração não pode sentir,
como o robô, tudo é programado para apenas seguir essa ordem, imperativa, que
esta mais para desordem, que não nasce uma nova ordem, mas que perpetua somente
esse caos destrutivo, não segue a linha auto-organizada que a Vida implica. Não
digo da vida humana, dos valores (preços) que a mente humana coloca no milagre
da Vida, enquanto algo natural de fato. Enquanto algo que venha de encontro à
evolução biológica. Muitos podem dizer que estamos sendo “puramente” naturais.
Pode-se dizer que sim, se tratando do egoísmo exacerbado, do individualismo
determinista. Porem, o equilíbrio entre individualismo e altruísmo é mais do
que isso. Portanto, natural é o que menos estamos sendo, estamos sim é executando
o mais fraco em detrimento do mais forte, a injustiça como imperativo comum de
prosperidade. Somos cooperativos antes de competitivos, somos mutuamente e
dependentes um do outro. Ninguém faz nada sozinho. Só evoluímos, nas épocas das
cavernas, graças ao senso de cooperação. O que há tempos, nos faz desnaturais,
desequilibrados e sintéticos.
Tudo o que poderia e deveria
ser para beneficiar a todos, pois todos tem o direito aos bens da Vida, só
beneficia poucos. Que fazem questão de subjugar e apropriar a força produtiva
dos que foram prejudicados e injustiçados com o tempo. Ocorreu a formação de
grupos, que vinham para comandar e arquitetar os desígnios e destinos da
maioria. Uma herança que é passada desde tempos remotos, desde o primeiro
patriarca que viu ser “superior” aos seus semelhantes. Claro que este até era
“superior”, pois ninguém é igual ninguém se tratando de personalidade e
individualidade psíquica, onde as capacidades, onde os “dons” afloram e
interagem no convívio social. Mas, se tratando de necessidades biológicas,
somos todos iguais, é só entender a complexidade da evolução da Vida neste
terceiro Planeta, de uma galáxia de quinta categoria, que se estende dentro do
Universo incalculável... Que dizer, não somos mais do que ninguém e do que
nada, somos tudo diante do outro, só somos algo porque existe o eu e o tu.
Agora, em fração de segundos
cósmicos (revolução industrial), nós seres ditos “sapientes”, movidos pelo
antropocentrismo, sentimos como o ápice do Universo, “o que até pode ser”,
porem ainda no sentido citado acima, destrutivo somente. A pretensão é tamanha
e tão petulante que nos dizemos imagem e semelhança de um Criador. Apesar de
sermos “co-criadores”, dotados de alta capacidade criativa, apontando o topo da
pirâmide das espécies, com nosso “mágico” polegar opositor comandado pela razão
instrumental “divina”, somos prensados na questão do que fazemos com todo esse
potencial, essa “divindade mágica”.
Minhas reflexões
perturbantes são baseadas neste requisito. O que fazemos de bom (coletivamente)
com toda essa divindade, usamos apenas para fins animalescos (individual)? Isso
é natural? É não se perturbar com o destino da criança que nasce, cresce e se
desenvolve sem as requeridas dignidades humanas? É ser insensível ao que os
olhos não veem? É ignorar os rumos extremamente desiguais? É fingir que não se
importa com a pessoa humana?
Sinceramente, existem
políticas internacionais, nacionais, estaduais e municipais, que no papel são
todas muito lindas, belas e perfeitas. Mas que servem apenas para camuflar essa
lógica egoísta, extrema, sem ao menos equilibrar o lado altruísta, que é
confundido com esmola, migalhas filantrópicas. E não só a política, mas também
as religiões, usadas como engenharia social. Os sistemas financeiros, que há
300 anos vem finalizando e apagando o altruísmo humano.
Refletindo sobre isso,
caímos na questão da educação, que na maioria esmagadora já é para perpetuar
essa lógica egoísta, como bem escreveu Paulo Freire, a educação bancária, onde
se “deposita” algo em um recipiente (vazio?), onde algo generalizado é dado
como educação (moldes prontos?). Porque, não se ensina como funciona o Estado,
o Sistema Financeiro, as Instituições Religiosas? Porque não se ensina o que
significa a Democracia Direta e outras formas fantasiadas de poder do povo? Se
for pra se perguntar o porquê de não se ensinar o que faria a devida diferença,
estaríamos nós aqui apenas numa infinita reflexão lamentosa, o que por hora é
somente a alternativa...
Os “superiores” dizem que
nada disso é importante, pois a grande maioria é apenas a “massa de manobra”.
Manobra essa que serve para criar o luxo dos poucos e a miséria dos muitos. Que
serve para destacar a Superioridade. Gados no pasto, marcados, fazem coro com o
superior, de inferiorizados, querem ser superiores, de oprimidos querem ser
opressores. Não poderia ser diferente, o medo internalizado é a arma essencial
dos senhores do destino, não existe nada pior do que o medo. Como dizem os
sábios, em oposição ao amor, não esta o ódio, mas sim o medo. E essa arma é
letal, todos temos medo de perder nossos afetos, de prejudica-los por uma
atitude que se confronta com os dominadores. Todos tem medo da cicuta, em nível
pessoal, antes do coletivo.
Pessoalmente, tenho o
seguinte dilema: como posso subjulgar e manobrar com os outros? Caso contrário,
serei manobrado e subjulgado pelos outros! Claro que nos dois movimentos se equilibramos
ninguém é soberano totalmente e nem escravo completamente. Mas como posso ir
contra o que sinto e o que acredito, enquanto convívio social? Decidir é poder,
e este meu poder acarretará muito em meus afetos, em seres que a mim ainda se
prendem.
Dependendo da decisão serei julgado com inconsequente e irresponsável.
Alias, nada mais comum, pois quem julga quer que o outro seja como ele é. E por
se tratar de ser comum, um erro salutar, pois cada um tem um caminho diferente,
é como diz o sábio, cada um pensa a partir de onde os pés pisam. Quer dizer,
dentro da luta de classe imperante (alimentadas pelas elites dominadoras), isso
ainda mecanicamente, uma classe não sabe o que é bom pra outra. Cada uma vai
entender e julgar apenas o lado que lhe compete. Se partirmos para o lado
pessoal de cada individuo, teríamos também a grande diferença da criação
familiar, a estrutura na infância, as perspectivas incutidas, enfim, algo muito
mais complexo do que a simples projeção da sombra psíquica.
Quem estiver lendo essas
reflexões perturbantes, dirá que a prolixidade é tamanha, que só existem
lamentações. O que de fato o é! Porem diz que se não lamentar, se não
questionar, refletir, criticar tudo isso o que nos mata, não poderíamos nós
pensar em algo que de fato seja uma SOLUÇÃO. Que como marionetes, folhas ao
vento, não podemos fazer mais. Até a constituição de associações, de sociedade
organizada, tem la suas dificuldades, barradas em interesses de uns ou outros
que entram somente para fins pessoais.
As classes sem privilégios,
não podem ser altruístas, sem comida, sem energia, sem dinheiro que pague o
viver social. E nessas classes que se encontrar o que resta desse altruísmo
renegado e massacrado pelas elites dominantes, que escrevem a história. Somente
a classe inferiorizada tem a necessidade de apoio mutua (o que nas classes
abastadas são requisitos essenciais, automáticos), poderia dar um novo rumo de
fato transformador, mas como o medo de não sustentar o lar, e suprir o preço da
vida em sociedade, dita sapiente, inviabiliza toda processo de mudança, e por
isso, tudo é tão difícil para atuar de fato em alguma solução transformadora. O
que sobra mesmo e por hora, apenas a lamentação e a conscientização da situação
dominada da qual vivemos. Como os gados no pasto, como as marionetes e folhas
ao vento.
Não adianta dizer que não
existe classes, enquanto 20% da população mundial vive com 80% dos recursos
naturais, dos benesses da dita sociedade sapiente, os outros 80% da população
vivem com a raspa do tacho, com o restante dos 20%, esses ainda comparados a
migalhas. Sofistas de plantão farão de tudo para perpetuar essa insanidade da
não divisão das classes sociais. Como que se subestimassem a simples observação,
os simples dados empíricos em questão. Basta sair dos centros, e verá que as
marginais, as periferias são imensamente desproporcionais aos núcleos
sapientes, aos núcleos “mágicos e divinos”.
Mas voltando na questão
principal, e como diz a canção: “de barriga vazia não consigo dormi, e com o
bucho mais cheio comecei a pensar, que eu me organizando posso desorganizar”. E
nisso, se quem deve mudar, alias, se de onde deve partir a mudança necessária,
tudo é movido pela ignorância, pela cultura da banalização, da mediocridade,
como ração para os gados, dignos de massa de manobra. Sem pensar, apenas
procurar o que comer, e mesmo ainda sim não quer pensar em “desorganizar”,
porque não se organizam, o medo é maior do que a organização da massa, das
classes. Se não for das classes inferiorizadas a mudança necessária, não será
das classes dominantes que virá tal mudança, é como diz uma frase clichê do
Tolstoi que é divulgada pela rede: “os ricos farão de tudo pelos pobres, menos
descer de suas costas”.
E nesse renitente e
insistente perturbação que me assola, depois de muito refletir nas experiências
das ações que me competiram, desde o inicio de minha consciência enquanto ser
social, cheguei a momentânea conclusão do compartilhar. Não pelo niilismo
simples das palavras ao vento, mas sim para daí partir uma organização. Algo
que una os ideias e sentimentos novos que nascem das necessidades que se
estendem pelo tempo. Muitos já estão avançados e em pleno funcionamento,
movimentos sociais, sociedades organizadas, etc. Talvez, algo possa germinar de
simples palavras vazias, pois a boca (os dedos no teclados), fala do que o
coração esta cheio, e das palavras e ideias que delas propagam, possa nascer a
grande ação necessária. Não digo de passeatas, nem tão pouco mobilização sem
intuito, algo subjetivo, mas sim das que tem objetivo concreto, greves
pacificas ou não, algo que demonstre de fato a indignação da maioria, e não
essa coisinha de ficar gritando contra corrupção, mais saúde e educação, como
que se só gritar isso seria motivo de “se” dizer “politizado”... Gritos de “guerra”
esses que são motivos de sarro dos que dominam.
Portanto, que algo seja
efetivo, que da próxima vez que o gigante acordar, alias nem acordou (onde as
periferias nunca dormem e dormiram), apenas entrou em estado de sonambulismo
induzido por interesses político-partidários, onde a classe média legitima
massa de manobra saiu as ruas, mas que seja para acordar de fato e reinar, pois
o povo unido é a maioria, e ai esta a força.
A cooperação deve equivaler
à competição, o altruísmo ao egoísmo. Eis ai o principal fator, esse em nível
de consciência pessoal, onde acontece a primeira e verdadeira revolução, a
nível molecular, que só assim fará a diferença em exercer a força imanente e
iminente do ser humano.
LRCP.